Capítulo 812 - Discórdia

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Em Urh’Gal, Jaha e Ye Yang iniciaram o teste de DNA com uma tensão pesada no ar. A cada segundo, a ansiedade aumentava, pois o resultado poderia determinar o destino de Cruz. Quando o dispositivo finalmente deu o resultado, a verdade que eles tanto temiam se confirmou… O DNA encontrado no musgo correspondia ao de Cruz.

Os dois se entreolharam, apreensivos e suspirando. O peso da situação se abateu sobre eles como uma onda esmagadora. Em vez de inocentar Cruz, as evidências que eles inteligentemente coletavam agora apontavam diretamente para ele como o responsável pelo ataque em Uhr'Gal. Um silêncio carregado de incerteza tomou conta do ambiente, enquanto ambos processavam o que isso significava.

Ye Yang, com os seus olhos incandescentes refletindo a tormenta interna que se instalou dentro dele, foi o primeiro a romper o silêncio, dizendo: "Não pode ser... Cruz jamais faria isso conscientemente. Algo está muito errado aqui."

Jaha, que sempre se orgulhou de sua lógica inabalável e sua inteligência quase sobrenatural, sentiu-se desorientado, vendo nas suas capacidades, agora, e naquele caso, uma maldição: "Se isso é verdade, então... Com o que estamos lidando aqui? Manipulação? Uma personalidade oculta? Ou...?" 

Jaha não conseguiu completar o pensamento, recusando-se a acreditar que Cruz pudesse ter cometido um ato tão horrendo.

A mente de Cruz nunca foi normal, mas aquilo… Aquilo era muito mais do que qualquer outro surto que ele já teve na vida. Um massacre como aquele era imperdoável. E se acontecesse em Decarius, eles derrubariam um mundo inteiro para acabar com o responsável. O dilema moral que levava-os a subverter os seus próprios sensos de justiça era algo tão complexo que os deixava em uma sinuca de bico, onde para qualquer lado que olhassem e tentassem sair, algo muito ruim aconteceria.

Percebendo que precisavam desesperadamente de mais informações, Ye Yang decidiu que era hora de envolver Zao Tian na história. Os dois trabalharam bem juntos, mas em certos assuntos, principalmente naquele tipo de situação, Zao Tian era a mente que deveria tomar as decisões e ter ciência do que estava acontecendo.

Com uma voz tensa, Ye Yang sugeriu: "Precisamos falar com Zao Tian. Ele precisa encontrar algo, qualquer coisa, que prove que Cruz estava em Decarius no dia do ataque. Se não fizermos isso, as coisas vão sair do controle rapidamente."

Jaha concordou com um aceno, sabendo que o tempo estava contra eles. Eles rapidamente ativaram o amuleto de transmissão sonora, e Zao Tian atendeu quase imediatamente, como se sua presença pudesse ser sentida mesmo a quilômetros de distância. A voz dele era firme, mas havia uma nota de preocupação quando ele perguntou: "O que vocês descobriram aí? Alguma prova que possa libertar Cruz ou algum apontamento de quem eu devo matar?"

Ye Yang, com a voz controlada, principalmente para manter Zao Tian calmo acima de tudo, respondeu: "Encontramos DNA no local, Zao Tian... Mas é do Cruz. A assinatura de energia espiritual também é dele. Estamos em uma situação muito complicada. Precisamos que você confirme se Cruz estava em Decarius no dia do ataque. Qualquer coisa que possa servir como álibi."

O silêncio que seguiu do outro lado da linha foi pesado. Zao Tian, sempre confiante, agora parecia estar enfrentando um dos desafios mais difíceis de sua vida. Ele sabia o quanto Cruz significava para todos eles e o quanto estava em jogo. 

A preocupação de Zao Tian era compartilhada por Jaha e Ye Yang, que sabiam que o primeiro não tinha limites de até onde estava disposto a ir para salvar os seus amigos e familiares. Zao Tian estava disposto a se atirar na Singularidade mesmo que fosse sozinho, só para resgatar o pelotão dos renegados, pelos quais ele tinha uma dívida, mas nem conviveu tanto tempo assim. E se Zao Tian era louco o suficiente para fazer aquilo por pessoas com as quais ele nem era tão apegado assim, não era nem possível imaginar o quão longe ele era capaz de ir para salvar o Cruz.

Agora, a guerra não era mais uma possibilidade, mas, sim, uma certeza. Enquanto Cruz fosse o culpado, de acordo com o que todas as provas diziam, era apenas uma questão de tempo até que Zao Tian invadisse Uhr Gal para resgatar seu amigo.

"Vou investigar imediatamente. Preciso de alguns minutos." Zao Tian respondeu, com um tom que revelava a gravidade da situação, mas escondia a sua vontade.

Enquanto aguardavam uma resposta, Ye Yang e Jaha trocavam olhares preocupados. Cada segundo que passava parecia uma eternidade. A tensão era tão densa que quase podia ser tocada. Ambos sabiam que, se Cruz não tivesse um álibi sólido, o julgamento seria inevitável, e com as provas atuais, a sentença seria fatal.

Finalmente, o amuleto vibrou novamente, indicando o retorno de Zao Tian. A voz dele, geralmente forte e imperturbável, agora carregava um peso evidente: "Procurei em todos os registros, interroguei testemunhas, mas... Cruz estava desaparecido no dia do ataque. Ninguém sabe onde ele estava."

O chão parecia se abrir sob os pés de Ye Yang e Jaha. A confirmação de Zao Tian era a pior notícia que poderiam receber. Sem um álibi, com o DNA e a assinatura de energia espiritual apontando para Cruz, a esperança de salvar o amigo por vias pacíficas começava a se dissipar.

Ye Yang fechou os olhos, tentando controlar a onda de emoções que ameaçava transbordar e iniciar um incêndio em Uhr’Gal: "Então ele realmente estava aqui... Mas por quê? O que o levou a agir assim?"

Zao Tian, tentando manter a calma, mas cerrando os dentes de raiva, respondeu com firmeza: "Não podemos tirar conclusões precipitadas. Precisamos descobrir se há algo mais acontecendo, alguma força que possa ter manipulado Cruz. Ele não fez isso! Não podemos desistir dele, não agora!"

Jaha, sempre a voz da razão, tentou encontrar uma solução que não estava tão de acordo com a certeza de Zao Tian: "Se ele foi manipulado, precisamos de provas disso, e rápido. Mas se ele estava aqui, e as evidências apontam para ele, os anciões orcs não vão esperar por mais investigações."

O grupo estava diante de um dilema quase impossível. Provas contundentes contra Cruz, contra uma fé inabalável na sua inocência. A confiança que sempre tiveram no amigo agora estava sendo posta à prova de uma forma que jamais imaginaram. Zao Tian não tinha dúvida alguma de que Cruz era inocente, mas Jaha e Ye Yang, que estavam na linha de frente da investigação e descobriram as provas que não gostariam de ter encontrado, já tinham assumido que foi ele que atacou Uhr’Gal, e só conseguiam pensar em quem ou como ele foi manipulado para fazer isso.

Zao Tian, Jaha, e Ye Yang estavam à beira de uma discussão acalorada. A revelação de que o DNA e a assinatura de energia espiritual correspondiam ao de Cruz havia criado uma cisão entre eles. Jaha e Ye Yang, apesar da lealdade ao amigo, não podiam ignorar as evidências que coletaram, enquanto Zao Tian se recusava a aceitar a ideia de que Cruz poderia ser o culpado.

A comunicação entre eles estava tensa, com Zao Tian insistindo que Cruz não faria aquilo de forma alguma. 

"Vocês dois estão errados!" Zao Tian exclamou, com sua voz carregada de uma fúria que ele tentava reprimir: "Eu conheço o Cruz melhor do que vocês dois juntos! Ele não faria isso, não importa o que as provas digam! Ele nunca perderia o controle a esse ponto e jamais seria manipulado por alguém!"

Jaha, que geralmente era o mais calmo e racional, respondeu com firmeza, tentando controlar suas próprias emoções enquanto abria os olhos de Zao Tian: "Zao Tian, nós entendemos o que você está dizendo. Mas estamos lidando com fatos, não suposições. O DNA é dele, a energia espiritual é dele... Precisamos considerar a possibilidade de que Cruz possa ter perdido o controle ou sido manipulado. Essa é a única forma de tentar defendê-lo."

Ye Yang, também chateado com toda a situação, mas pensando igual ao Jaha, acrescentou: "Eu não quero acreditar que Cruz fez isso, mas a realidade está nos forçando a encarar essa possibilidade. Precisamos investigar todas as opções, inclusive a mais difícil de aceitar."

Zao Tian, por sua vez, não conseguia aceitar o que estava ouvindo. Para ele, o simples fato de eles estarem considerando a culpa de Cruz era uma traição. Ele acreditava na inocência do amigo de forma inabalável, e a ideia de que Jaha e Ye Yang estavam duvidando disso o enfurecia profundamente.

"Vocês já o condenaram, não é?!" Zao Tian disse, com sua voz tremendo de raiva e sua boca quase espumando, antes de questionar: "Estão prontos para entregá-lo aos orcs? Acham que é tão fácil assim, lavar as mãos e aceitar o pior? Eu esperava mais de vocês!"

Jaha e Ye Yang trocaram olhares, sabendo que nada do que dissessem poderia mudar a visão de Zao Tian. Para ele, Cruz era inocente, e qualquer sugestão em contrário era uma afronta.

"Não é isso, Zao Tian..." Jaha tentou argumentar, mas foi interrompido.

"Não quero ouvir mais nada!" Zao Tian cortou, com a fúria evidente em sua voz: "Vou resolver isso sozinho, sem vocês. Se não podem confiar no Cruz, então saiam dessa investigação, que eu mesmo vou dar um jeito nisso!" Com essas palavras, Zao Tian encerrou a comunicação de forma abrupta, deixando Jaha e Ye Yang em um silêncio pesado.

Toda aquela história e a discussão havia deixado uma marca profunda entre eles. Jaha e Ye Yang, apesar de suas preocupações e dúvidas, sabiam que a situação estava longe de ser simples. Enquanto Zao Tian, movido por sua lealdade e confiança inabalável em Cruz, se preparava para agir por conta própria, sem aceitar a realidade que começava a se desenrolar diante de todos.

A comunicação cortada, e o silêncio que se seguiu, deixaram Jaha e Ye Yang com uma sensação de perda e de urgência. Eles agora sabiam que o tempo estava se esgotando, e que além de um julgamento de Cruz pelos orcs, Zao Tian poderia tomar uma decisão drástica a qualquer momento.